Editorial: Problemas sociais da Índia não são fruto de sua herança espiritual
Desde tempos imemoriais a Índia, como território e país, atrai a curiosidade e atenção de todas as demais nações. Por ser uma das civilizações mais antigas do globo, a Índia tem uma riqueza cultural imensa e toda sabedoria de suas escrituras se manifestam também na parte social.
Roupas tradicionais como saree e dhoti, acessórios como grandes piercings e bhindi (ponto entre as sobrancelhas), tecidos, estampas e design de jóias, arte nas mãos (Mehendhi), a grande variedade de temperos, pratos típicos e ervas para saúde, inúmeros tipos de artes e danças, seus costumes, seus templos e espiritualidade, atraem a curiosidade do mundo moderno, um tanto padronizado pela cultura de massa.
Após sofrer muitas invasões ao longo dos anos, muitos conceitos da tradição indiana foram grosseiramente distorcidos, causando desestabilidade e incompreensões entre seus próprios cidadãos, ainda hoje.
O que comumente vemos nos jornais sobre a Índia é fruto dessa triste realidade de anos de dominação cultural e ocupações e não da autenticidade da cultura e escrituras do Sanatana Dharma em si.
Muitos profissionais da área da comunicação prestam um desserviço quando apenas reproduzem distorções, sem conhecer, um pouco mais profundamente, os conceitos da filosofia milenar da Índia.
Já vi repórteres retratando o Ayurveda como se fosse um sistema apenas de comida, massagem (e preguiça). Ayurveda é um estudo mais antigo e muito mais complexo que a Acupuntura. Por que não é retratada com o mesmo respeito?
É comum mostrar a Índia como o país onde casta e preconceitos fazem parte da tradição. Não fazem qualquer menção sobre o conceito de Varna Ashram e não informam que a palavra 'casta' não aparece em nenhum lugar dos Vedas tendo sido utilizada por colonizadores portugueses para retratar (e dividir) a sociedade que queriam ocupar.
A qualidade dos noticiários e programas de tv que temos nos Brasil leva a crer que muitos grupos midiáticos fazem um papel de 'colonizadores modernos'. Dessa vez, não usam espadas e navegações: usam os meios de comunicação para ditar o que é culturalmente certo e errado desrespeitando qualquer tradição que vá de encontro aos seus interesses (financeiros).
Cabe aos estudantes ligados a alguma vertente de origem indiana mostrar, informar e compartilhar o que não é ensinado no mainstream e ajudar a dissipar qualquer distorção que produza aversão e intolerância à tradição hindu.
Dissipar dúvidas sobre a terra e a cultura que tanto nos enriqueceu a mente, a consciência e o coração é a maneira dhármica de manter e viver esta tradição, apesar do jogo de interesses que sempre fez parte do mundo e da sociedade.